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O que já aprendemos sobre inteligência artificial na educação em 2024?

Quando o assunto é inteligência artificial na educação, o mundo está longe de um consenso. Enquanto uma parcela da sociedade aponta os riscos das novas tecnologias, outros grupos defendem os avanços que elas podem trazer para o ecossistema educacional. 

Seja como for, essas ferramentas já fazem parte do nosso cotidiano e demandam um debate público, ponderado e plural. A fim de acompanhar as tendências no mercado das IAs educacionais, a Fundação Lemann marcou presença em quatro eventos de Tecnologia e Inovação no mês de abril. 

Confira uma síntese dos principais aprendizados que nosso time de Tecnologia trouxe a partir das discussões no AI Tech Tour (EUA), ASU + GSV Summit (EUA), Llama Impact Grants (EUA), Web Summit Rio (Brasil), Demo Day sobre IA e Avaliações de Alfabetização (Brasil).

  1. IA Generativa: riscos e oportunidades 

Em resumo, a Inteligência Artificial Generativa é uma tecnologia que gera conteúdos a partir de um banco de dados (big data) e de técnicas de deep learning. O produto mais conhecido usando esse tipo de modelo é o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI.

Na educação, essa tecnologia está sendo utilizada para otimizar áreas de tutoria e personalizar o ensino de forma escalável, duas dores significativas dos educadores. Entretanto, as empresas que desenvolvem essas soluções ainda não conseguiram responder a um grande desafio: controle de qualidade.

“Muitas vezes, o que parece ser um bom conteúdo em termos estilísticos é, na verdade, muito frágil no que diz respeito ao currículo. Ou seja, aumentamos a velocidade e o volume de conteúdos, mas não garantimos a qualidade. Ao invés de poupar o tempo dos educadores, isso pode gerar mais sobrecarga”, explica Guilherme Cintra, Diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann.

Porém, já existem linhas de pesquisa que investigam o uso da IA Generativa como um intermediário pedagógico, combinando interações humanas e organização de bases de dados. Embora ainda não haja estudos totalmente consolidados nesse sentido, é uma tendência que vale a pena acompanhar nos próximos anos. 

  1. IA na educação: um debate sobre ética e segurança

Uma experiência na Universidade Estadual do Arizona (EUA) revelou que, dada a oportunidade, 43 mil de seus 68 mil estudantes utilizaram o ChatGPT durante o período de avaliações. Isso prova que as pessoas já escolheram a IA Generativa como recurso de apoio.

“Portanto, a discussão já não é mais sobre aceitar ou não o uso dessas tecnologias, mas definir limites éticos e seguros para essa implementação. Em outras palavras, precisaremos trabalhar de forma paralela: promover condições de uso e participar ativamente do processo de desenvolvimento de soluções educacionais”, avalia Guilherme Cintra.

De maneira geral, grande parte dos países estão estagnados na proposição de regulamentações para o uso da inteligência artificial na educação, sobretudo por conta dos riscos envolvidos nessa área específica. No entanto, a urgência por decisões é cada vez maior. É importante que a regulamentação seja uma promotora de boas práticas e não impedir seu desenvolvimento.

“Sem dúvida, é preciso considerar ao menos quatro aspectos relevantes para políticas públicas nesse sentido: ética, privacidade, viés discriminatório e segurança técnica dos dispositivos. Se as pessoas mais impactadas pelas tecnologias não estão na mesa de discussão, então não estamos avançando”, conclui Cintra. 

  1. IA e relações humanas: um case de sucesso

Inicialmente, o distrito de Nova York (EUA) proibiu qualquer uso de IA Generativa nas 1800 escolas que fazem parte do sistema de ensino local. Inclusive, foi uma das primeiras cidades a se posicionar abertamente sobre a discussão. Pouco tempo depois, no entanto, essa decisão passou por uma revisão.

Atualmente, Nova York não apenas permite o uso de inteligência artificial na educação, como também é pioneira na criação de políticas para regulamentar uma implementação que faça sentido dentro do contexto dos 1 milhão de estudantes da região. Como resultado, a rede conta com 1800 diferentes soluções digitais usadas diariamente.

Para isso, foi criado uma espécie de “laboratório de políticas públicas”, envolvendo estudantes, professores e familiares. A ideia é garantir alinhamento entre as tecnologias usadas e os reais objetivos de aprendizagem a partir de um planejamento concreto que dialoga com os recursos disponíveis, acessibilidade e inclusão. 

“A inteligência artificial é utilizada para facilitar diálogos autorreflexivos dentro da comunidade escolar. Assim, os seres humanos estabelecem objetivos concretos e bem estruturados para direcionar a inovação rumo ao impacto social positivo que se pretende gerar”, analisa o Diretor de Tecnologia e Inovação da Fundação Lemann.

  1. IA no Sul Global: aproximação estratégica

O mercado de tecnologia do Sul Global está em constante crescimento. Além de concentrar alto índice populacional, os sistemas tecnológicos desenvolvidos em países da América Latina e Índia buscam responder a desafios muito semelhantes aos enfrentados no Brasil.

Por exemplo, problemas de infraestrutura e conectividade nas escolas, defasagem na formação técnica de professores, baixo investimento em educação e tecnologia, alto custo de produção e desigualdades sociais estruturais. De modo que o desenho desses sistemas costuma ter uma perspectiva voltada para questões de acessibilidade. 

“Apesar da proximidade geográfica, o Brasil ainda é muito isolado dos demais países latino-americanos. Mas esse diálogo parece inevitável, uma vez que as próprias tecnologias caminham no sentido de eliminar a barreira de língua”, complementa Cintra.

Por outro lado, uma aproximação desse mercado faria com que o Brasil tivesse que pensar em modelos mais intencionais de inovação no sistema educacional. Isso passa por incluir mais pessoas em um debate profundo sobre quais indicadores, de fato, promovem mudanças significativas nos resultados de aprendizagem.

  1. IA como parte da estratégia de impacto social

Estamos vivendo a história enquanto ela acontece: inúmeras e novas possibilidades surgirão à medida que a IA generativa se torna mais popular e disponível. Ao mesmo, como qualquer ferramenta tecnológica que tem potencial de impacto na vida de milhares de pessoas ela precisa ser pensada com responsabilidade, levando em consideração diversos aspectos, desde as restrições de acesso daqueles que não possuem a infraestrutura mínima necessária para se beneficiar desse tipo de tecnologia (ex. conectividade) até os riscos relacionados o mal uso desse tipo de tecnologia. 

“Aqui no time Inovação da Fundação Lemann, estamos profundamente envolvidos e atentos ao debate sobre como a inteligência artificial pode gerar impacto positivo. Junto com Maluta, Laura, Carol e Manu temos nos dedicado um tempo significativo das nossas agendas para a interagir com diferentes organizações, pesquisadores e edtechs, ao mesmo tempo que desenvolvemos nossa estratégia para potencializar o uso de IA no ecossistema apoiado pela Fundação.” — conclui Guilherme Cintra. 

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